Depoimentos


Subi a Montanha
levando somente o meu coração
e a minha coragem.

Desço trazendo comigo
sua energia em meu coração,
os mistérios de sua noite escura,
a magia de seus elementais,
o verde de suas plantas,
a visita da borboleta branca
e a música da dança do vento
balançando as arvores.

Ainda retumba em mim
a batida dos tambores
dos irmãos que desde embaixo
vibram na conexão do apoio

Ainda sinto em mim
o olhar encorajador
da grande família
e os cantos e rezos
do guardião da Montanha.

Deixo lá em cima
meus medos e temores
e agradeço a esta montanha avó e mãe
que me permitiu
limpar e fortalecer meu ser em seu ventre,
fazendo-me morrer e renascer
pra magia da vida!


Chayan Murad
(Busca da Visão - Fev/2014)


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Este texto é imensamente especial pra mim. Eu o escrevi em estado de prece, em homenagem a todas as pessoas que, num ato de enorme coragem, passaram dias e noites em oração no alto de uma montanha, conectadas com a natureza, consigo mesmas e, portanto, com a vida. Se cada um aceitasse o desafio de conhecer mais a fundo a si próprio, talvez compreendêssemos mais uns aos outros. É provável que tivéssemos um mundo melhor! :) Não tive propriamente esta experiência, mas descobri que há muitas formas de se subir a montanha... Gratidão a todos pela convivência e aprendizado!! Com imenso amor e admiração, Juliana.
 
Eu subi a montanha
Não para fugir de tudo
Mas para me reencontrar.
Do alto, vi que, tomando distância,
todos os meus conflitos pareciam menores.
Eles não diminuíram: eu é que cresci.

Esperava temer os ruídos da noite
Porém, o mais assombroso, era o barulho dentro de mim.
Ansiava pelo silêncio total
Mas o que encontrei foi um imenso ruído em minha mente.
Cansada de perguntas sem resposta
Em algum instante, consegui calar o pensamento
Para ouvir a voz do coração.

Então compreendi porque o som dos tambores
se parece tanto com as batidas do meu peito.
O tambor é o coração da tribo;
som que une as almas aparentemente separadas
pelas gerações, pelo tempo, pela altura das montanhas.

No auge da minha solidão, me entreguei
E permiti que o canto e os tambores
ressoassem mais alto do que todos os meus medos.
Me senti digna de proteção e afeto
através da voz dos que rezavam por mim.
Me reencontrei na união e no amor,
dos quais eu jamais deveria ter-me afastado.

No alto da montanha
A escuridão que mais me impressionou não foi a da noite,
mas aquela que carrego, sem perceber.
Intuí que não se briga com a noite: a gente a reconhece.
E passa a reparar que na escuridão do céu
ainda há estrelas que brilham;
e que a lua, mesmo obscura, exibe tanta beleza quanto a luz do dia.

Ao amanhecer na montanha
Senti que não só o dia se firmava,
mas que algo renascia em mim.
Aprendi a adormecer com a noite, a clarear a escuridão com a lua
e a embelezar o entorno, como as estrelas.

Aprendi a surgir e a me retirar
quando a natureza determinasse - a exemplo do sol.
Aprendi a me impor com os trovões
e a deixar minhas lágrimas correrem, porque assim é a chuva.
Enxerguei Deus na natureza e,
sendo parte dela, vi o sagrado em mim.

Senti que mereço a bênção de cada amanhecer,
porque também sou luz.
E que, se sombra e luz dançam em mim,
é apenas porque sou natureza.
Claro e escuro são faces do mesmo milagre chamado vida.

Tudo o que existe, apenas é;
não há o que temer: cada coisa está onde é o seu lugar.
No alto da montanha
Enxerguei que as respostas
Ecoavam em mim o tempo todo.
O que eu precisava era de silêncio para ouvi-las. 


Juliana Davi
(Busca da Visão - Fev/2013)

Veja este e outros lindos textos e poesias no blog da Juliana Davi: http://tocaopenaporta.blogspot.com.br/